segunda-feira, 14 de junho de 2010

Filme: Preciosa



O filme Preciosa é baseado no livro homônimo de Sapphire, conta a história de uma menina de 16 anos que está grávida do segundo filho (os filhos dela são resultados de estupros do pai) e é expulsa de casa e levada a um reformatório.
O filme de 2009 foi dirigido por Lee Daniels e tem no elenco a vencedora do Oscar Mo'nique (no papel de MAry, mãe de Preciosa), Gabourey Sidibe (como Preciosa), Paula Patton, Mariah Carey, Lenny Kravitz.

A análise é feita pela psicóloga Natália

A verdade nua e crua assusta. No momento em que sai do cinema me senti assustada por essa tal verdade que tem que ser dita a qualquer preço.
O filme “Preciosa” demonstra isso com toda a força e precisão, nos remete a perceber que esses fatos realmente ocorrem e o quanto marcam e destorcem a vida da jovem Preciosa, a jovem é abusada pelo pai, tem uma filha com ele com síndrome de Dawn, a mãe a espanca não considera como filha mas como amante do marido e ultrajada como tal. Não conseguia aprender e estava grávida do seu segundo filho com o pai e é encaminhada para o reformatório e nesse lugar que ela começa resignificar sua vida, começa a enxergar novas saídas.
O filme, visto por ângulo da bilheteria, não rendeu como outros grandes sucessos mas demonstrou como é fácil permanecer na posição de que nada acontece.
Famílias com grau de comprometimento psicopatológico cometem o incesto, o abuso sexual intrafamiliar é o maior índice nas estatísticas, não escolhendo classe social, raça, cor.
O complexo de Édipo, ao qual somos concebidos, é essa relação triangular em que segundo Freud as nossas estruturas psíquicas são estabelecidas. Dessa relação triangular é que determina como é formado o ID, que é o desejo o proibido, o Super- Ego, que é o carrasco a culpa, e o Ego que organiza essas instancias psíquicas.
O Pai: a figura simbólica do pai é a lei “nos arranca é mostra que pertencemos ao mundo e não a nossa mãe, e que iremos procurar outras parcerias”.
Em casos patológicos em que o Édipo se concretiza abre-se um abismo na família. É o que aconteceu com a Preciosa, o pai prometia que iria casar com ela, impedia inconscientemente de namorar, concretizando o Édipo.
A cenas no filme que demonstram a fuga da realidade, um mecanismo de defesa que nega aquele acontecimento tão traumático.
Ao resignificar a sua vida ela conseguiu não naturalizar a violência que sofria, a professora teve uma escuta ativa e a amou, sentimento esse nunca vivenciado por ela. O amor de pais nunca teve, o que teve no lugar deste amor nunca caracterizou algo de bom para Preciosa.
Sua mãe com características boderline, traços caracteristicos de psicose, é um destaque. Vencedora do Oscar, a atriz conseguiu expressar o sofrimento e a inveja que apersonagem sentia pela filha, denunciando a dinâmica doente da família.
A Preciosa era a esposa do seu pai.
Quando algumas pessoas desmistificam o poder da família e o seu essencial papel, seja ela convencional ou moderna, ele é a base da formação da personalidade muito mais que educar é manter a saúde mental dos filhos.
O filme é surpreendente e fascinante, mostra como o sofrimento de bases tão arcaicas que é o núcleo familiar podem sofrer mutações de formas doentias. A Preciosa em nenhum momento foi protegida, era uma menina de 16 anos que é uma resiliente e que no decorrer do filme torna o sofrimento humano em algo precioso e fruto de reflexão.

3 comentários:

  1. Olá!
    Acabo de conhecer esse blog e para mim não poderia haver melhor junção, já que sou cinéfila e psicóloga.
    Achei uma iniciativa muito interessante e criativa.
    Parabéns!
    Acabo de entrar para o mundo dos blogueiros e falo sobre gestalt-terapia, se houver interesse:
    http://gestaltemfigura.blogspot.com/

    Um abraço!

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  2. Muito boa a análise feita sobre o filme.Não consegui assistí-lo e recorri a internet para ler a crítica sobre este filme.
    Grata.

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  3. Olá, gostaria de saber qual o significado do lenço usado por Preciosa, qdo uma mulher de vrmelho entrega à ela e no final qdo Preciosa entrega este mesmo lenço para uma menina que também é vítima de violência intrafamiliar. Obrigada.
    Priscila

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