sábado, 22 de agosto de 2009

Personagens: Sméagol/Gollum e Frodo


Retornamos mais uma vez aos livros e filmes "O Senhor dos Anéis". "O Senhor dos Anéis" de J.R.R. Tolkien foi adaptada para o cinema por Peter Jackson. Tolkien escreveu os três livros entre 1937 e 1949 e editou os primeiros exemplares de cada entre 1954 e 1955. O filme chegou as telas de cinema do mundo todo em 2001, 2002 e 2003.


Análise feita por Leandro.



Estava em minha casa vendo uma matéria sobre um rapaz que assassinou outro por estar sobre efeito de uma droga ilícita. O jornalista da matéria começou a reportagem com uma entrevista com a família do acusado, a família dizia que ele era tranqüilo e que os dois eram amigos. Nesse momento me lembrei de um famoso personagem dos livros de Tolkien e do filme “O Senhor dos Anéis”, Gollum.
Durante a história de “O Senhor dos Anéis” Gollum nos é apresentado como a criatura que veio atrás do seu “precioso”, que é como ele chamava o Anel do poder. Esse anel tinha o poder de despertar o mal no individuo que o usasse e o faria escravo para “nas sombras de Mordor aprisionar”. Mordor é a terra onde foi criado o Um Anel ou Anel do poder.
No primeiro livro e no terceiro filme, nos é apresentado um pouco da história de Gollum, cujo nome verdadeiro é Sméagol. O livro nos conta que ele achou o Um Anel junto com seu primo e amigo Déagol, ao olhar o anel achado e sentir sua beleza e poder, Sméagol o deseja e mata o primo apenas para ter o Anel em mãos. Devido ao crime ele é expulso do lugar onde mora e passa a viver nas Montanhas Sombrias e lá ele começa a se alimentar apenas de peixes crus e de orc’s. Ao perder o Anel, ele sai em busca do mesmo para te-lo de volta, nem que precise matar novamente para isso.
Podemos com isso fazer uma comparação aos dependentes de substancias psicoativas. Assim como essas substancias, o um Anel exercia um poder sobre seu usuário, tornando-o dependente disso, o Um Anel oferece um poder para seu usuário, o deixa mais viver mais tempo mas o preço é o modo de viver. Sméagol começou a mudar a forma de alimentação, se isolou da sociedade e suas atitudes com outras pessoas, quando as encontrava era de violência. Ficar tanto tempo utilizando o Anel, Sméagol esqueceu sua história e adotou o nome de Gollum (a sonorização que a garganta dele fazia, emitia este som “gollum”, como se estivesse tossindo) e criou uma segunda personalidade (ou será que era apenas a antiga?)
Mas este um anel teve apenas estes efeitos no Gollum? Ele também teve efeitos em outros seres, Isildur, que tirou o Anel de seu dono original, também foi afetado pelo Anel e morreu defendendo seu “tesouro”. Bilbo Bolseiro também foi afetado, não envelheceu quando o estava usando e quando reencontrou o Anel com seu sobrinho ele teve uma recaída e por um instante se pareceu como um monstro. Boromir, ao desejar o Anel, quase mata Frodo e acaba morrendo ao retornar seu pensamento em sua missão inicial.
Frodo mesmo foi um usuário do anel, mas ele contou com ajuda. Inicialmente 8 pessoas (ou seres vivos) o auxiliaram a acabar com o Anel, mas durante o caminho outras pessoas se juntaram e o ajudaram, deram coragem, mesmo sem estarem perto dele. O único que realmente ficou junto dele foi Sam, seu primo e amigo. Ao contrário de Sméagol, Frodo não matou Sam. Sam até utilizou o Anel uma vez para libertá-lo dos inimigos mas já o entregou, pois sabia que se utilizasse muito o Anel seria dependente dele. Mas o único que poderia destruir o objeto da dependência de tantos, o único que poderia acabar com um mal que assolava a tantas pessoas, esse alguém era o último usuário do Anel, Frodo.
Com isso faremos um link sobre o processo de tratamento de dependentes, seja de jogos, seja de substâncias psicoativas, ou de várias outras coisas, mas darei foco em substancias como álcool e drogas ilícitas. Notem como foi importante para o processo de destruição do Anel a ajuda de outras pessoas. Frodo precisou do apoio de Sam, Aragorn, Legolas e tantos outros que cruzaram seu caminho (inclusive obteve ajuda de Gollum, mesmo sem este querer). Frodo percebeu que não poderia participar de algo tão grande sem ajuda.
Esse reconhecimento é um dos primeiros passos para o tratamento de dependentes, é necessário que eles tenham conhecimento que aquilo faz mal para ele e para os que estão próximos, se ele perceber isso é pedir ajuda conseguirá participar de todo o tratamento e ter uma “reabilitação” mais rápido.
Em Gollum podemos ver como um individuo pode ficar ao não perceber como aquilo o está matando, de determinada forma, e acabando com sua vida social. Vemos hoje que vários dependentes, principalmente os de substâncias psicoativas, podem se tornar violentos, venderem todos os bens que possui apenas para saciar esta dependência.
Ao conversar com um amigo, que irei chamar de Samuel, sobre como ele era e estava quando era usuário de maconha e cocaína, ele me disse que por dentro estava “um caco”, não conseguia pensar direito, só queria saber de fumar mais um “cigarrinho”, ele percebeu como aquilo estava o afetando quando olhou para o espelho “cara, eu me via magro, como um esqueleto, parecia mais um fantasma de filme que com um ser humano, aí resolvi me internar”.
Esse modo como ele se viu e mais ou menos como o Gollum é, magro, sem vida, sem perspectiva. Gollum vivia para o Anel, o dependente vive apenas para a dependência dele.
Samuel me disse que o fator que mais ajudou para sair da dependência foi a ajuda dos amigos e familiares, ele ainda me disse que quem se isolava muito ou que não recebia muitas visitas, tinha um processo mais longo e difícil.
Desta forma, podemos perceber que a ajuda de outras pessoas no tratamento de dependência é fundamental, mas o único que pode acabar realmente com esta dependência é o próprio individuo.
Para concluir transcrevo um dos últimos parágrafos de “O Senhor dos Anéis”, tendo esperança que muitos daqueles que se encontram com o “Anel” possam destruí-lo e voltar para casa.
“Por fim, os três companheiros se voltaram, e sem olhar para trás mais nem uma vez sequer foram lentamente em direção de casa ... – É, aqui estou de volta”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Livro: Bruxa, Bruxa


Este livro, ou conto, foi indicado por uma pedagoga da cidade de Santo André - SP, a Samantha. Obrigado pelo apoio e pelas sugestões.


A análise é realizada por Natália


Esse livro nos remete a infância do novo século que, podemos dizer, é mais “encurtada”. Hoje percebemos que aos 9 anos eles se auto-denominam pré-adolescentes e não mais crianças.
O ser criança se perdeu diante da pressa de ser adolescente, e o ser adulto se perdeu no fato de permanecer adolescente (se tornando um “adultescente”).
O fato é que ser criança é navegar na fantasia, é uma fase de absorção das coisas boas e más da vida. Já dizia Freud “A criança é um polimorfo perverso”, dando alusão a importância da infância e as etapas do desenvolvimento psicossexual, alertando a importância da infância carregada de subjetividade.
Não pretendo analisar o livro, apenas no seu modo geral, mas sim viajar na infância contemporânea.
O livro é bem ilustrado em suas cores, na historia o narrador (presumindo que sejam os bichos da floresta) decidem organizar uma festa, na qual sem a bruxa ninguém iria a festa. Partindo deste ponto, a figura bruxa entra em qual momento histórico?
Segundo Bettlheimexiste um tempo certo para determinadas experiências de crescimento e para a infância é o momento de aprender a transpor o imenso interior e o mundo real.
Bom e o mau, mãe que ora boa e ora é ruim, ora provem o alimento e ora provem a frustração, essa é uma figura da bruxa que fica no imaginário infantil contendo esses dois lados, bem e mal.
O bom e o mau estão presentes na história e conforme o desenvolvimento humano, aos poucos a criança consegue integrar aspectos bons e maus em uma pessoa (principalmente nos pais).
A Infância de uma forma ou de outra, está sendo mutilada e rasgada, adiantando a adolescência sem a verdadeira experiência infantil, e a autoridade é necessária e deve se fazer presente. A autoridade não é sinônimo de tirania, mas continência materna e/ou paterna dos objetos internos (medos e angustias), também sinônimo de cuidado, de carinho.
Convidar a “bruxa” para a festa é um símbolo da proteção também, demonstrando a necessidade de limite da criança, para que elas não se tornem adultos com baixa tolerância a frustração e com atitudes compensatórias.
Devemos convidar a “bruxa” para nossa festa, admitir que em nós contém o lado bruxa e fada e que podem, e devem, ser administrado para o equilíbrio.