quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Contos de Fadas



Análise feita por Leandro

“Era uma vez ... num lugar muito distante ...” é com esses dizeres que em sua maioria começa os contos de fadas. São estórias que encantam gerações, afinal muito que lêem este blog já viram ou se emocionaram com a “A Branca de Neve”, “A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera” (meu primeiro filme no cinema, por acaso) entre tantos outros contos que foram adaptados pelos estúdios Disney para o cinema ou televisão. Também foi adaptado para a televisão nos anos 80 para uma série chamada “Contos de Fada” que até hoje é televisionado pela TV Cultura. Se formos comparar dois contos de fadas, como por exemplo Os Três Porquinhos, da Disney e do “Contos de Fada” veremos que são diferentes. A Disney adaptou as estórias para fazer desenhos, filmes, seriados, com o intuito de divertir e ter lucro com esses contos. Enquanto que o programa “Contos de Fada” interpretava na integra a estória do conto (talvez com algumas adaptações para a roupagem da época, como no caso da estória “A Princesa e a Ervilha”, que no conto original e passado numa época medieval e neste programa foi feito no molde dos anos 80, as falas não mudavam, apenas a roupagem, o que não tirou o seu conteúdo como nas adaptações da Disney). E mesmo tendo suas diferenças os contos de fadas são aclamados até hoje, é só irmos até uma livraria ou banca de jornal que já vemos material cujo conteúdo são contos de fadas, sem falar dos incontáveis livros a respeito de suas propriedades dentro da pedagogia e da psicologia. E é nesta última que me atentarei.
Os contos de fadas são temas de estudos de diversos trabalhos científicos e seu uso dentro da psicologia é bem amplo. Vou citar 4 autores que fizeram estudos do contos de fadas e seu uso e potencial psicológico: Bruno Bettelheim (autor do livro “Psicanálise dos Contos de Fadas”), Marie-Louise von Franz (autora de diversos livros junguianos, incluindo “A interpretação dos contos de fadas” e “A sombra e o mal nos contos de fadas”), o casal Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso (autores do “Fadas no Divã” e do recém lançado “A Psicanálise da Terra do Nunca” - estou considerando o casal como um único autor) e Radino que realiza um trabalho voltado para o uso do conto de fada na psicoterapia e nos trabalhos psicopedagógicos ("Contos de Fadas e a Realidade Psiquica").
Em todos estes estudos foi possível constatar que os contos de fadas interagem com a mente do individuo independente da idade, mas vou focar mais no trabalho dentro da infância (0-12 anos) que em outras faixas etárias.
Bettelheim averiguou o quanto as estórias, em sua forma original, podem influenciar no desenvolvimento infantil, auxiliando o infante na busca pelo significado de sua vida, que no futuro ele poderá olhar de forma racional (e subjetiva) para todos os conceitos que ele formou durante estes anos, chegando na chamada “maturidade psicológica”. Os contos ajudam a criança a interagir com outras pessoas, saindo de sua existência autocentrada para a existência coletiva e individual, e com isso entender a si e ao outro.
Outro aspecto importante é que os contos se comunicam diretamente ao inconsciente do individuo, onde o mesmo pode se deparar com a bruxa má, lobos, heróis e princesas que permeiam seu imaginário e sua vida real.
Vida real? Sim, a criança começa a fazer uma ligação entre os personagens da ficção com os personagens da vida real (pais, irmãos, avós, primos). Essa ligação ajuda a criança a entender os sentimentos que tem por todos aqueles que estão em seu meio. Os contos de fadas exteriorizam os sentimentos infantis tornando cada sentimento compreensível devido a representação deles pelas personagens. Ele consegue olhar para a bruxa má e a fada madrinha e enxergar a própria mãe nas duas personagens, consegue simbolizar os sentimentos de raiva e medo da bronca da mãe na personagem “bruxa má” enquanto todo o carinho e afeição que a mãe dispõe ao filho ele simboliza na “fada madrinha” e desta forma ele pode organizar melhor seus sentimentos.
Ao conseguir identificar seus sentimentos nestes personagens a criança pode se apropriar destes sentimentos e compreende-los melhor.
Cada conto de fada pode nos mostrar uma gama de interpretações, não irei realizar neste momento alguma interpretação, mas este é apenas um começo já que o inconsciente é grande e as portas para ele são várias.


Gostaria de acrescentar que em breve postarei uma parte de meu TCC aqui no blog, que fala justamente sobre a utilização dos Contos de Fadas na psicoterapia, mas por enquanto vamos ficar com um pouco do mundo Maravilhoso das Fadas

Referências:

BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fadas, 22° ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008

CORSO, D. L.; CORSO, M. Fadas no Divã Psicanálise nas Histórias Infantis. Porto Alegre: Artmed Editora, 2006

RADINO, G. Contos de Fadas e a Realidade Psíquica: A importância da Fantasia no Desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003